quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Minha história

A narrativa desta história serve para  mostrar ás pessoas que o ser humano é capaz de romper barreiras e preconceitos, e despertar em outros deficientes que eles também são capazes de enfrentar as barreiras e realizar seus sonhos.


O cego que redescobriu a vida.

            Desde os seus 15 anos, o shyatsura não vê nada. Hoje com sensibilidade e técnica ele aplica acupuntura e massagens nos pacientes.
Há 26 anos o Acupunturista Cléo Silva Borges, o shyatsura, de 42 anos, não vê a luz do dia.
Com nove anos ele perdeu a visão num olho e, aos 15, ficou completamente cego.
“Tive problema na retina. Quando perdi a visão pela primeira vez foi do olho direito, estava dormindo e acordei com muita dor no olho. Depois há seis anos perdi a visão do olho esquerdo por retina descolada provocada por  acidente de trabalho ”, lembra shyatsura.
Natural de Porto Alegre e de origem humilde, shyatsura conta que teve que enfrentar a discriminação contra a pobreza e a cegueira ao mesmo tempo.
“Enfrentei bastante preconceito. Mas nem por isto deixei de lutar por aquilo que acredito”.
Sofri o preconceito no primeiro emprego depois de cego. Fui julgado incapaz pelo chefe do raio-X de um grande Hospital de Porto Alegre .
Sem me conhecer direito o chefe do raio-X não quis me aceitar depois de 90 dias de estágio, mas vendo a injustiça que ele estava fazendo,  foi feito um baixo assinado pelos meus colegas de trabalho,  para que eu pudesse permanecer e provar que era capaz de efetuar a função.
Por meus olhos não serem deformados, e nem esbranquiçados, como me locomovia bem, os meus colegas colocavam obstáculos em minha frente, como balde de lixo, suporte de soro etc.
Justamente por desconfiarem que eu enxergasse, foi realizada uma ecografia onde comprovou minha deficiência e assim terminou a desconfiança dos colegas, pois para as pessoas “ditas normais” o cego tem que ter olhos deformados e esbranquiçados e andar batendo sem direção.
E no final do ano na festa de amigo secreto, este mesmo chefe, para desculpar-se pela falha que cometeu me presenteou com um violão.
Acabei ficando por 12 anos neste hospital trabalhando como câmera escura.
Neste meio tempo fiz um curso de massagem onde eu comecei minha jornada como terapeuta. De lá para cá fui me especializando. Quando eu fui fazer o curso de acupuntura me disseram que era bobagem fazer este curso, ”pois quem iria fazer um tratamento com agulhas com um cego?” Mas não dei ouvido, pois era tudo que eu queria. 
Graças à sua garra, hoje ele é o único profissional cego no Rio Grande do Sul que trabalha com acupuntura — o uso de agulhas no tratamento de doenças. Além disso, ele também trabalha há 18 anos como massagista.
“Comecei indo de casa em casa”, conta shyatsura. Agora, porém, ele tem sua própria sala em Novo Hamburgo. “Só saio para atender nas empresas”, acrescenta Shyatsura.
Embora não enxergue o rosto dos seus pacientes, ele garante que quem o consulta uma vez, sempre volta e ainda indica outras pessoas. O segredo, segundo ele, é a intuição e a técnica para resolver o problema. ”Tem gente que vem aqui e não agüenta de tanta dor, Depois do tratamento, sai aliviado”.
Borges lembra que já resolveu problemas considerados perdidos por alguns médicos. “Uma vez atendi uma paciente que desde os 12 anos de idade sofria com enxaqueca tomando medicamentos diariamente mais sem melhora. Várias vezes foi internada em emergência pela dor terrível; não tinha uma vida normal. A  partir da primeira sessão de acupuntura sua enxaqueca diminuiu, ela se sentiu bem melhor e hoje vive sem dor ” e se orgulha shyatsura.

O Casamento

 

Casado há 10 anos com Eliane Rosa dos Santos e pai de dois filhos, Borges diz que o deficiente precisa ser criativo e superar o preconceito até para conseguir um casamento. “Eu entrava no teleamigos para conversar. Conheci minha esposa pelo telefone”, conta shyatsura. Francielle  é a primeira filha da união. Desde dos  dois anos, ela  guia  o pai quando ele precisa sair à rua.
“Ela é pequena, mas muito inteligente. Certa vez tive que ir à Lotérica e ela me levou certinho”, diz shyatsura. Atualmente Francielle tem nove anos, o segundo filho do casal é Felipe, de cinco anos. “Minha família é um orgulho. Ela me motiva a lutar cada vez mais na vida”, revela shyatsura.

A Lição de vida

Apesar das limitações impostas pela deficiência, shyatsura ensina que o importante é não se acomodar. ” Conformei-me com a falta de visão. Mas jamais vou me acomodar”, afirma. A motivação é tanta que, em 1985, o shyatsura participou de uma Paraolimpíada em São Paulo. “As dificuldades foram muito grandes, ainda mais em outro estado. Mas fui lá e participei. Não me arrependo”.
Nos momentos de folga, shyatsura gosta de ficar no computador. “Tem Vezes que ele fica até de madrugada jogando videogame ou ajudando alguns amigos pela internet que tenham problema no micro”, conta a esposa.
Aliás, a informática foi outro desafio que shyatsura precisou enfrentar. “Quando quis aprender a instalar programas nos computadores, um Professor me disse que isto não era para qualquer um. Fiquei chateado. Mas pratiquei até aprender. Hoje, sei usar muito bem o computador”.
            Meu próximo desafio é fazer um estágio na china em um hospital universsitário mais para isso preciso de um patrocínio será que terei mais algum anjo da guarda que vai apostar em mim.
Diante de tudo isto, ele conclui: “Nunca julgue uma pessoa incapaz se nem você conhecer seu limite. Quem sabe, por trás da deficiência, tem um grande potencial? Lembre que todos nós temos alguma deficiência”.
 Contatos: cel.(51) 99458822. emailshyatsura@gmail.com  

Fonte: jornal Popular de Novo Hamburgo do ano 2008.